DBR 2012 - 4º Dia - Serra da Aboboreira


....mais uma noite a dormir na minha tenda "fim-do-mundo". Desta vez estive tão quente dentro do saco-cama do Coelho que mais parecia dentro de um panelão, ou 8 ou 80...lol..... A Alvorada foi novamente às 06h15, mas acordei cheio de moral e confiança, tendo em conta a etapa de hoje. Estava reservada a Serra da Ababoreira, para efetuar 51 Km com 1600+ acumulado, nada que assustasse depois do que já tinha passado e sofrido. Seria assim a etapa da consagração.
      Na partida de hoje estavam juntos os 3 grupos do DBR: o Epic (225 atletas), o Adventure (187 atletas) e o Ride (202 atletas), onde partimos numa bonita moldura mais de 600 atletas. 
      O tempo esteva muito mais fresco, não se sentindo durante a etapa aquele "bafo" de ar quente, que de imediato necessitávamos de oxigénio...lol...
     Assim parti cheio de força, a rolar bem mais forte que nas etapas anteriores, pois não tinha nada a poupar, até àquela que estava marcada no gráfico como a principal subida e dificuldade do dia, situada entre o km 25 e 35.
     Estava a ser um dia em pleno, onde até nas quedas, dava espetáculo. Ou seja, numa curva a descer, bastante técnica, o pneu da frente ficou enterrado na terra que estava bastante solta, então vai daí saio disparado monte abaixo. Aí pensei, a esta velocidade lá vai a clavícula. Solução: dou uma grande cambalhota e fico logo de pé...que filme...lol...foi risada geral do público....não me peçam é para fazer outra igual...lol... Como estava a arriscar muito a descer, é normal as quedas também aparecerem, mas o trilho estava fantástico, para tirar mãos dos travões e curtir os single-tracks a grande velocidade e com o cabelo ao ar.
      Vai daí a apenas 4/5 Km do fim, começo a sentir a corrente a enrolar toda, não conseguindo sequer pedalar. Olhei para ela, ela olhou para mim e disse, já chega, não ando mais. Mais parecia um cobra, toda enrolada e torcida em vários pontos.      
     Como é possível isto acontecer-me mesmo a cheirar a meta? Mas foi, a cabeça bloqueou e a solução que encontrei foi sair da bicicleta e empurrar à mão nas subidas e retas e nas descidas apanhar balanço e tentar descer o mais rápido possível, isto durante 1 km. Comecei a ser ultrapassado por vários atletas, e foi aí que pensei que seria melhor tentar arranjar uma solução para mais esta contrariedade. Pois bem...azar..., quando ia a tirar a minha bolsa de ferramentas que carregava no selim, as mesmas tinham desaparecido, ora bolas, agora é que estava feito, não tinha nadinha de nada.
    Volvidos alguns minutos apareceu um atleta que se prontificou em ajudar, mas quando olhou para a corrente disse" ui como isto está, não tem solução, não vais conseguir acabar". Nem vale a pensa dizer o que me passou pela cabeça neste momento. Com muito esforço, metemos mais um elo rápido, depois de a muito custo a ter conseguido tirar da pedaleira, pois ficou lá presa. Mas mesmo assim estava torcida em vários sítios, onde a única solução era pedalar muito devagar, sem meter grande força, de forma a arrastar até à meta. Foi isso que fiz, com demasiada calma para meu gosto, que mais parecia um passeio à beira mar num domingo à tarde. Lá consegui terminar esta etapa e o DBR, triste por mais este azar, mas feliz por ter conseguido ser um FINISHER.
      Durante o percurso como pontos mais atractivos tivemos os monumentos Megalíticos, as Aldeias de Montanha, a ponte sobre o Rio Ovelha e os Singletracks longos, técnicos e cheios de adrenalina, que proporcionaram grandes descidas, e quedas também...lol...
Percorri assim os 51,5 Km com o tempo de 3H41m, com 1700+ acumulado, com mais um atraso de 30 minutos agarrado à corrente. No final ficou a história as 20H43m a pedalar nos 4 dias, em que consegui ficar no lugar 118º de entre os 155 que conseguiram concluir com sucesso o DBR. Uma palavra ainda para os cerca de 69 atletas que não conseguiram concluir, mas que de certeza para o ano estarão lá, para se vingarem...lol...Depois de um breve descanso, estava na hora do banhinho, guardar e desmontar a tenda que veio toda enrolada, pois ninguém conseguia meter uma coisa tão grande, num saquinho tão pequeno, ainda deu pra rir.
       Claro que o momento alto do dia, foi a entrega de prémios aos vencedores de cada categoria, que sem dúvida têm andamentos do "outro mundo".
Classificações Gerais: Nos elites masculinos ganhou de uma forma categórica Rui Guimarães, 2º Alejandro de la Pena e 3º José Rodrigues; em Open Women a grande vencedora foi a Campeã Espanhola de maratonas - Sandra Santanyes, 2º Celina Carpinteiro e 3º Ana Gonçalves; em Master Men- 1º Arlindo Gaspar, 2º Paelinck Peter e 3º António Catarino; em Seniors Men,- 1º Carlos Cabrita, 2º Eduardo Simal e 3º Abílio Moreira.
    Pois bem, não ganhei nenhuma Competição Olímpica, ou Campeonato do Mundo, nem mesmo de Portugal, mas ganhei o desafio, pela qual muito lutei, sofri com o calor, com as contrariedades, com os muitos quilómetros percorridos, o muito acumulado, o pouco sono, mas no fim a alegria por ter conseguido ser um dos privilegiados de ser um dos FINISHER no DBR2012. Esta medalha foi entregue pelo João Marinho, figura mais visível do DBR e que tem atrás de si uma equipa extraordinária de pessoas. Foi um momento muito significativo para mim e estava assim saudada a minha luta ao longo dos últimos 4 dias.
      Obrigado a todo o Staff do DBR, que estiveram sempre em alto nível, com uma prontidão e amor ao que faziam. Eles e nós, tornamos o DBR um sucesso, cimentando a posição que esta prova ocupa em termos nacionais e internacionais, conforme comprova os 100 estrangeiros presentes este ano.
      Uma palavra de amizade e agradecimento aos meus amigos e família, que ao longo dos dias, tiveram um bocadinho do seu tempo, para me deixar mensagens de coragem e força, e que eu lia e relia de noite deitado na minha tenda...obrigado..

Video da etapa 4 - Serra da Aboboreira:



o desfio está lançado para o DBR 2013....Are You Ready??????

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