Para todos aqueles que um dia decidiram
participar num Trail, onde eu me incluo, dificilmente conseguiram deixar de se
questionar onde e quando será o próximo desafio, isto é, no mínimo dois dias
depois, tal é a coça que levamos….lol… realmente a exigência física neste
desporto é muita, somente equiparada à realização pessoal no final de cada quilómetro
efetuado, à transposição de cada “parede”, às descidas alucinantes, à transposição
de obstáculos impensáveis, às passagens por linhas de água, subidas com ajuda de
cordas, etc, etc, servindo como “comprimido” para libertar a mente, ou como
gosto de parafrasear, contribuir para a minha sanidade mental.
Quando ouvi falar em noturno,
rapidamente pensei: correr de noite no monte, escuridão, os pés sempre a
saltar, quedas na certa, perder-me, água fria, as temíveis couuuubaras ….quando
é que é mesmo???? Pois é, a Longusbike, os Amigos do Trail e o Clube btt Valongo,
decidiram organizar aquela que seria o I Trail Noturno de Valongo, que se
tornaria em mais uma noite fabulosa.

Desta feita a equipa ia jogar em
casa, onde os patrocinadores estariam atentos à prestação da mesma, podendo no
final da prova alguns atletas serem obrigados a irem para a 2ª equipa e assim
perderem a oportunidade de participar nos melhores trail.
O desafio consistia
num Trail com a distância de 20 km e uma caminhada de 9 km, com partida e
chegada no Largo do Centenário – Valongo. Uma vez mais, andei a correr a
preparar as coisas, consequência: enganei-me nas sapatilhas de trail e levei as
de atletismo e mais grave, esqueci que a bateria não estava carregada, que
medooooo. Chegamos cedo, tal como gostamos, para tranquilamente tratar da “logística”,
levantar dorsais, fotos da praxe, conviver com os amigos, divertir para começar
a prova com o máximo de descontração possível. Um dos momentos mais altos, é
sempre a foto de grupo, que se transforma sempre em confusão e palhaçada geral.

A partida estava marcada para as 20H30, contudo a aula de zumba, que serviu
para aquecimento, que leva sempre ao delírio das mulheres…lol…atrasou um pouco
o fogo de artifício, que serviu como tiro de partida, algo inédito e sempre
espetacular. Estava bem artilhado para este desafio, nomeadamente com cordões
que davam luz e uma luz na cabeça de 3600 lumens, pelo menos assim pensava…lol…
Decidi partir com calma, para poder desfrutar da noite e do desafio.
Claro que
as sapatilhas foram um sucesso, motivo de riso entre a organização à medida da
passagem pelos pontos de ajuda e abastecimento, pela luz que emanava, uma
brincadeira que levei para a competição, pois também há tempo para isso. Rolava
forte, com pulsação controlada e a noite não me estava a dificultar muito,
tendo em conta o “poste” que levava na cabeça, que dava luz para mim e para
todos os que rolavam junto a mim, originando motivos de risota. Um dos pontos
altos, foi a passagem por uma linha de água, que originou uma pequena queda, dando
para arrefecer um pouco mais o motor…lol… e as pernas pois claro.

O pior estava
para vir, pois perto do km 14, antes do 2º abastecimento, a luz apagou-se, e a minha
vantagem, tornou-se num pesadelo. Basicamente não via nada, obrigando-me mesmo
a caminhar, pois quando queria acelerar, logo tropeçava e andava sempre cai num
cai. Pensei em desistir, pois não tinha condições mínimas para continuar, até
que vi as luzes do 2º abastecimento. Aqui, um dos elementos da organização que
ali se encontrava emprestou-me uma luz, para poder continuar. Rapidamente comi
a bela de uma nata e decidi arrancar, com muita dificuldade, pois levava a luz
na mão, e constantemente tinha de apontar para os meus pés, para ver o trilho.

Então decidi esperar pelos atletas que estavam atrás de mim, para poder
beneficiar das luzes deles e andar um pouco mais rápido, aproveitando a boleia
de 2 atletas para rolar forte numa zona de asfalto. Assim cheguei ao fim, de
mais uma grande aventura, agravada pela minha incúria, mas que me diverti
imenso. No final ainda houve tempo para comer duas bifanas e beber café
quentinho.
Uma palavra de agradecimento e reconhecimento para a organização que
esteve muito bem, onde as dificuldades são sempre muito maiores que um trail
organizado durante o dia. Tiveram coragem, arriscaram, e foram bem sucedidos. Em
termos individuais a conseguimos um brilhante 2º lugar feminino e o 2º
lugar por equipas, ninguém pára estes atletas.
Em termos pessoais consegui o
15º
lugar com 1H37m, num total de 184 atletas que conseguiram terminar este desafio
noturno.