Foi marcada para o pretérito dia
06 março 2014, uma nova manifestação da(o)s polícias, onde depois dos
acontecimentos do dia 21 Novembro de 2013, altura em que foi “cavalgada” a escadaria
da Assembleia da República, o mínimo dos mínimos, que se aguardavam, para
gaudio de todos, era uma “guerra” entre Polícias Fardados vs Polícias Manifestantes,
e que principalmente se tornasse um belo espetáculo televisivo, quiçá com a
apoteose de montar em plena assembleia um hospital de campanha, para recolher
mortos, feridos, mutilados e afins.
Mas eu Agente da PSP, e tendo em
conta que sou contra tudo e todos; porque critico as manifestações pacíficas; porque
critico os colegas do trânsito porque continuam a autuar, os da investigação
criminal porque continuam a “partir portas”, os da patrulha porque vão às
ocorrências, os do C.I. porque treinam, os cães porque comem ração….; porque critico
as associações sindicais que nada fazem nem querem saber, as mesmas que recuso
apoiar porque nesse dia tenho um treino de futebol; porque só lá vou se for pra
fazer sangue e matar alguns polícias; deitar fogo à assembleia; subir e descer
escadas (em jeito de treino aeróbico); só vou se for para dar uns tiros para o
ar com a minha arma; só lá vou se não respeitar nada nem ninguém e esquecer o
dever e o juramento que fiz; desrespeitar os meus colegas que nesse dia tiveram
a “sorte” de estar de serviço, sim, os mesmos que no dia a seguir me protegem
as “costas”, para com segurança poder desenvolver a minha missão; ou então porque
sou muito macho e forte e critico e acho-me com superioridade moral e
intelectual para considerar que a luta apenas foi feita por 400 polícias e os
outros 14600 polícias, não passam de uns frouxos, e que apenas lá foram para
postar umas fotos no facebook para terem uns likes, sem respeitarem opiniões,
vontades e sentimentos…. por isto tudo não fui à manifestação ….
Decidi, ficar sentado no meu
sofá, comodamente a comer pipocas e a vibrar com a luta, bravura, sacrifício e
a coragem dos meus colegas, com uma bandeira na mão de Portugal e na outra o
comando da minha televisão, top gama, toda xpto, que tinha comprado para
assistir propositadamente à manifestação dos meus colegas e amigos, sim, porque
a luta é deles, não minha. Pensei então: eles que lutem, que cantem, que
demonstrem a tudo e todos a situação degradante da minha profissão, da falta de
condições e dignidade que todos trabalhamos, da falta de condições para
proteger e servir a sociedade, que levem eles os processos disciplinares e
crime, que levem umas bastonadas, canhões de água, ferradelas, pontapés,
caneladas, porque eu estou bem, muito bem aqui sentado ….
Neste comando pré-defini vários
efeitos especiais. Senão vejamos, tecla 1: cai a barreira policial; tecla 2: polícias
manifestantes sobem 4 escadas; tecla 3: pontapé no ar na cara do polícia do C.I.;
tecla 4: salto no ar, cabeçada na cara do Polícia da E.I.R.; tecla 5: lançamento
de poder mágico (igual ao Dragan Ball) e congelava os cães do C.I., e atordoava
os GNR que estavam dentro da assembleia a babarem-se para me aquecer as minhas
belas costas.
Amigos, foi o divertimento total,
uns caíram, outros morreram, outros ficaram congelados, poucos fugiram, mas
passei de nível, e, quando cheguei ao fim do jogo (manifestação), fiquei
frustrado, triste, com vontade de chorar, por não ter estado presente a lutar,
a gritar, a demonstrar em viva voz o que me ia na alma, as minhas frustrações e
desilusões, e, então decidi devolver a televisão e o comando à loja e acordar
para juntos e a uma só voz dizermos: SOMOS POLÍCIAS EXIGIMOS RESPEITO E
DIGNIDADE.
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