O desafio foi lançado pelo Ricardo e o André e tinha como destino a Serra da Freita, onde iríamos conhecer a Aldeia mítica de Drave, aldeia perdida numa cova entre a Serra da Freita e de São Macário, situada na freguesia de Côvelo de Paivó, Concelho de Arouca. Acabaram por se juntar à dupla, eu (Tojo) e o Quelhas (Ex-trepador…lol).
Pelas 07H00 já estava tudo concentrado nas bombas, para seguir em direcção ao Parque de Campismo de Merujal, onde pelas 08h30 já nos encontrávamos a descarregar as nossas “meninas” e a carregar as mochilas, pois todo o percurso seria em autonomia total e estavam previstas temperaturas altas, logo tínhamos que levar muitos líquidos.
Os primeiros 30 Km corriam muito bem, havendo tempo para uma pequena paragem num café, onde fomos presenteados com as famosas “Pedras Parideiras”, ou seja: fenómeno de granitização raríssimo no mundo, em que através da termoclastia, pequenas rochas graníticas se formam e separam da rocha-mãe, jazendo então no solo.Pelas Aldeias que íamos passando, eram um místico de nostalgia e beleza, típico nestas regiões do Portugal profundo, em que de vez em vez nos cruzávamos com os ali residentes, por norma com idades avançadas, mas sem com disposição para nos saudar.
Para chegar a Drave, o percurso que tinha sido retirado pelo Ricardo para o GPS, não era ciclável. Neste momento as coisas complicaram e o calor era muito, causando ainda mais dificuldades, havendo ainda, pelas nossas contas, cerca de 8 km de percurso para fazer, com muita pedra solta e com as nossas “meninas” às costas e não em cima delas como gostamos…lol…
Numa altura em que o Ricardo tentava procurar novo trilho, perdeu-se do grupo, originando um ataque de “raiva” do Quelhas, que estava com vontade de o comer vivo, e, só não o fez porque se lembrou que tinha na mochila, cervejinha fresquinha e uma taça de massa, atum e milho, e que boa que estava…
Como ele estava a ferver, eram facilmente audíveis os abutres, que já rondavam por cima das nossas cabeças, dizendo “Cai Quelhas, Cai Quelhas, tanta comidinha”…lol
E eis que, quando já nos encontrávamos novamente com falta de água, avistamos finalmente a Aldeia de Drave, composta por casas em xisto, destacando-se a capela de cor branca e uma pequena lagoa de águas frias, ou seja aquilo que por miragem víamos ao longe, para ali podermos descer o termómetro do corpo e tomar um belo banho refrescante.
Aqui também se encontrava o Grupo "Saloios à Descoberta", da zona de Lisboa e que já se encontravam a andar à 3 dias, começando a sua epopeia na Serra Gêres. Foram de uma simpatia extrema, pois logo nos ofereceram de beber e comer, dando para retemperar algum entusiasmo e energia, que já nos escapavam.
E como eu sou uma pessoa cheia de sorte, eis que quando me encontrava a tomar um belo de um banho, sinto algo a remexer na minha cinta e para meu espanto quando olho, era nada mais que uma “bela” de uma cobra de água. Foi o verdadeiro espectáculo, comigo aos berros e a tentar fugir, pois tenho pavor àquele bicho rastejante, ou seja, COBRAS….
Tempo ainda para uma breve conversa com um grupo de escuteiros que se encontram a preservar aquela aldeia mítica e para as fotos da praxe.
Tínhamos então que voltar a subir tudo até alcançarmos a estrada, continuando assim o imenso esforço debaixo do muito calor. Cada metro que andávamos, quase que tínhamos necessidade de beber. De salientar que durante esta subida tivemos novamente o apoio do outro grupo, no fornecimen to de água, que se mostrou de uma importância vital. Contudo custava-me mais andar a pé, por causa das bolhas que tinha nos dois pés, do que ir em cima “dela” em passo caracol. A provar que Portugal é muito pequeno, no meio do nada, cruzámo-nos com um casal de Serpa, que foram responsáveis pela marcação do SRP160 e que depois de nos termos identificado como os do “Comboio Amarelo”, de imediato se lembraram de nós e claro do nosso amigo Metralha. Ainda nos ofereceram duas Coca-colas fresquinhas, que bem que souberam….
Faltavam cerca de 8 km até ao local onde tínhamos partido, mas a esta altura ouvimos um estrondo enorme e quando olhamos para trás o Quelhas tinha rebentado que nem uma castanha, estando o “motor” a deitar fumo por todos os lados …..lol…. sendo então decidido que eu e o Ricardo iríamos buscar os veículos, ficando o André com o trepador. Só que para mim, as coisas também não estavam fáceis, pois para acompanhar o Ricardo é o mesmo que correr ao lado de um comboio. Já na parte final, na aldeia de Mujarela, passamos por enormes vacas, que pastam à vontade e andam no meio das estradas, indiferentes aos transeuntes e veículos que com eles cruzam. Também tinha uma certeza, se marrassem comigo, nem os olhinhos mexia, imaginem como eu ia.
Depois de retemperados com uma bela sande de presunto e queijo e o ve rdadeiro ice-tea e uma mini pra Ricardo, eis que tínhamos que ir buscar o restante pessoal. Quando finalmente chegamos junto deles, eis que estavam muito bem dispostos, estatelados num café a beber e comer, descansadinhos da vida…
Em termos gerais passamos assim pelas aldeias de Regoufe, Arouca, Mujarela, S. Macário, Serra da Freita Tebilhão, Cabreiros, Cando, Viveiros da Granja, etc
Foi sem dúvida o passeio mais violento que fiz até então, conseguindo mesmo superar em termos dificuldade a prova do GEO120, que como se recordam foi feita com condições meteorológicas muito más, muita chuva e temperaturas muito baixas … mas ficou o sentimento de prova superada, pois dos fracos não reza história. Esta crónica serve também como gratidão aos meus companheiros de “luta”, Ricardo, Quelhas e André, pelo empeno que me proporcionaram.
Deixo no ar esta frase: “Nem todos os caminhos, são para todos os caminhantes” - Goethe
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