Há uns anos atrás, se me dissessem que ia
participar numa prova de estrada, diria que essa pessoa estava louca…lol…
Claro que depois de comprar uma bike fininha, daí
até começar a ter vontade de competir, era um pequeno passo.
Escolhi então o DouroGranfondo, naquela que seria
a sua 1ª edição, numa das regiões mais bonitas do nosso país, para dar o “pontapé
de saída”.
À partida sabia que ia ser uma prova muito dura, numa
distância de 175km e com uma altimetria de 3290+, logo o empeno estava mais que
garantido.
O treino, fiz na medida do possível, ou seja, treinei
sempre que pude e da maneira que pude, mas sentia-me bem e confiante, o resto
via-se durante o decorrer da mesma.
Como companhia tinha o Gouveia, que foi o
principal responsável por me ter inscrito na mesma, bem como no acompanhamento
dos treinos, por isso ele é que era responsável, se a coisa corresse mal…lol…
O ponto de partida e todo o staff, estava montado
na cidade da Régua, passando os imensos quilómetros pelas cidades de Lamego,
Armamar, Tabuaço, S. João da Pesqueira, Carrazeda de Ansiães, Tua, Alijó,
Favaios, Sabrosa e Pinhão.
Estudado o cardápio (gráfico), tinha 5 grandes
picos e 5 grandes descidas, onde os abastecimentos estavam sempre ao cimo de
cada subida, ou seja em S. João Pesqueira, Carrazeda de Ansiães, Favaios,
Sabrosa e Armamar, com pendentes que chegaram a 12,7%, que medoooo….
Aproveitando a boleia do Mota, cedo partimos até
à cidade da Régua, onde ali chegados, o ar era mais puro que o normal, sempre acompanhados
pela beleza natural daquela região. Sentia-se também a adrenalina que antecede
este tipo de competições.
Infelizmente as condições climatéricas não eram as melhores e a chuva decidiu aparecer e em grande estilo, tentando e conseguindo por momentos estragar a festa.
A bike e o equipamento individual, era visto e
revisto, na tentativa de nada ser esquecido, dando origem a um stress que só iria
terminar com o “apito inicial”….lol…claro que o Leite não ajudava muito, pois
estava mais nervoso que eu e o Gouveia juntos…lol…coisas de pró…
Momentos antes da partida, começou a chover copiosamente,
encharcando tudo e todos, e logo eu que não me sinto nada bem com este tempo,
azar…
Mas os cerca de 2000 atletas, de vários locais do
país e mesmo estrangeiros, estavam animados e confiantes e a chuva não os
demovia de fazer história neste dia de grande festa, para todos os amantes do
ciclismo.
Tal como já referi a partida foi dada à hora
certinha (09H00) e sob debaixo de grande chuva, que tornava tudo muito
complicado e perigoso, pois a roda fininha, como sabem não dá grande segurança
na chuva. O spray vindo dos pneus traseiros, impedia a famosa “rodinha” tão
usual nesta competição, pois de imediato impedia a visão.
O Gouveia que partiu numa box mais à frente, à saída
da ponte esperou por mim, para juntos fazermos esta aventura, e tantas vezes
que ele ainda ia esperar…lol…
Estava algo receoso, e por isso tentei poupar, na
medida dos possíveis as perninhas, tendo em conta os inúmeros quilómetros que
tinha pela frente.
Ainda assim, os primeiros 25 kms foram feitos em
bom ritmo, a preparar a primeira subidinha boa.
A 1ª subida tinha perto de 14 km e uma
percentagem média de 4,4%, e ainda as pernas estavam de boa saúde e tentava
acompanhar o Gouveia, que tinha sempre vontade e pernas de subir muito mais
forte do que o ritmo que eu rolava. Terminava em S. João de Pesqueira, onde
coincidia com o 1º abastecimento. Eu como ia com vontade de urinar desde o
início, tive de fazer uma pausa, e ainda aproveitei para comer.
Aqui, foi um dos meus grandes erros, e paguei bem
caro. Ou seja, com medo de ficar sem energias, tentei cumprir o que se lê nos
livros, ou seja: deve-se comer muito antes de ter fome e beber muito antes de
ter sede. Eu rapidamente, e mal, decidi encher o bandulho de doces e ainda
trazer nos bolsos mais umas sandes, para combater a falta de energia…lol…e paguei
mais à frente este erro...
Estas descidas eram sempre feitas a grande
velocidade e num misto de loucura, em que o piso molhado não ajudava. A saída de
estrada logo no início, colocou o coração quase a rebentar de adrenalina,
rezando para não sair cuspido e descer o monte a “voar”…lol…até à Barragem da
Baleira. Parede nº 2 - tínhamos uma parede desde a Barragem da baleira até Carrazeda
de Ansiães, com cerca de 7 Km e 7,3% de inclinação. Quando comecei a subir,
comecei a sentir náuseas e com vontade de vomitar, pela quantidade de comida
que tinha ingerido e principalmente pelos bolos.
Uma coisa é deixar de ter energia por falta de
alimentação, mas também nada ajuda o excesso de comida, que faz com a corrente
sanguínea não consiga digerir os alimentos, ao mesmo tempo que se faz um esforço
tão intenso, aprendi da pior forma…
Depois de mais uma descida louca, que dava para
ver pelo canto do olho, as belíssimas paisagens do Douro, entrei na 3ª subida,
na extensão de 13 km e com 3,9% com média de pendentes.
Aos poucos a má disposição ia-se desvanecendo,
conseguindo andar um pouco mais forte, claro que nunca o suficiente para
acompanhar o pró do meu amigo de jornada.
Faltava uma “picada”, que me dava algum alento
para conseguir terminar. Tinha a última grande descida com cerca de 15 km pela
frente até ao Pinhão, onde estava situado um novo abastecimento.
Claro que eu já nem podia ver comida, apenas
bebia água e comia laranja, para cortar o doce.
Esta descida, bem como a reta até à subida de Vacalar,
foi feita a grande velocidade, pois apanhamos um grupo forte e colamos na
rodinha deles. Contudo apanhar uma roda, nem sempre é sinónimo de facilidade,
em que muitas vezes tinha de forçar para acompanhar o ritmo.
Entramos assim na 5ª parede- Vacalar e Armamar,
com 7 km e 6,7% de subidinha boa.
Em Vacalar aparecia uma tarja com a indicação “Bem
vindo ao Inferno”, sem dúvida muito acertado, onde jurava que já estava no
inferno, pois já não sentia nada…k medoooo
Mas o pior estava para vir, ou seja, a subida de
Armamar. Indiscritível, meu deus, o que eu sofri para conseguir transpor esta
picada, onde muitos a fizeram a pé e mesmo assim a sofrer. Aqui, a cada minuto
que passava, só pensava em desmontar, e à frente tinha o Gouveia a dizer: “embora
tojó, tá quase, força”. Confesso que a determinada altura, era desesperante eu
ir completamente morto e a sofrer que nem um cão e ver o Gouveia, quase a sacar
cavalo e a brincar de um lado para o outro, como se fosse em plano.
Restava descer e rolar até à meta. Nem aqui foi
fácil, pois o Gouveia continuava a acelerar, até partir o meu motor, pois
claro.
Este final foi feito com muita adrenalina e
emoção, pois tinha conseguido atingir o meu objetivo, não tinha preocupação de
tempos, nem ficar à frente de ninguém, apenas e só desafiar-me a mim próprio,
tal como gosto.
Em termos classificativos fiquei na geral 327ª
posição em 549 que terminaram, ficando em 98 no meu escalão num total de 185,
com 07H11 e a 1H53 do vencedor.
Os atletas que participam nestas competições,
estão muito bem preparados e têm grandes bicicletas, como costumo dizer
competir com uma bike de 9.200kg não é a mesma coisa que rolar com grandes
máquinas, mas também não foi só por este motivo que não ganhei…lol…
Em termos gerais fiquei muito contente com a
minha prestação, exceto o pormenor da alimentação, que deu para aprender para o
futuro.
Uma palavra de reconhecimento e agradecimento ao
meu amigo Gouveia, que sem ele não teria conseguido terminar com este tempo. Durante
todo o percurso deu-me a roda, para tentar não me desgastar muito e foi-me
dando força e alento nas subidas.
Muitas vezes disse-lhe para ele fazer a
corrida dele, mas abdicou da mesma, para me acompanhar, por isso muito obrigado.
No final lá tirei a foto da ordem com a minha
medalha de finiher, que tanto mereci.
No meu registo deu a módica quantia de 175,9 km,
em 07H03 e com uma média de 25 km/h, num máximo de 67,3km/h, que loucura….
Ainda tivemos tempo para comer uma pasta recover,
tomar um banhinho reconfortante e voltar a casa, com a barriguinha cheia da
coça que levei…lol…
Como dizia o lema” Aceitar os desafios faz-nos
grandes, vencê-los torna-nos imortais”….
video para a posteridade:
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