Um dia tinha de me internacionalizar e tinha de ser numa grande prova, por isso escolhi o Quebra Ossos, considerada uma das maiores provas de ciclismo amador.
Claro que o aparecimento da pandemia do Covid-19, originou vários cancelamentos de datas, criando alguma confusão, ficado decidido que passaria para 18 de Setembro 2021. Esta escolha não foi fácil nem consensual, já que o risco era enorme uma prova nos Pirinéus em Setembro.
Não obstante tudo isso, decidimos arriscar e resolver já este ano a prova que nos fugia, contando com o Gouveia, para mais esta grande aventura.
O Quebra Ossos, é uma prova de ciclismo amador, com 200 km e cerca de 3431+, percorrida pelos Pirinéus em Espanha e França, subindo algumas das montanhas mais duras e emblemáticas, como o Somport, Marie Blanque, Portalet e Hoz de Jaca.
Bem, chegou o verão e já tinha decido ir de férias com a família, e, como é normal, nunca levo bike nas férias. Sabia que era um risco enorme, pois tanto tempo de papo para o ar ia ter repercussões e teve, mas de forma consciente fiz e voltava a fazer exatamente o mesmo.
Chegou o dia da viagem. Tínhamos visto o tempo que ia fazer e não estava muito mau, parecia que a sorte estava do nosso lado, mas contudo levamos alguma coisa para tempo mais frio, mal sabíamos o que aí vinha.
Tendo em conta que tínhamos cerca de 920 km até Biescas, decidimos dividir a viagem e passar a noite em Burgos. Foi uma boa escolha, pois chegamos a meia da tarde, e de forma tranquila deu tempo para visitar a cidade e conhecer a sua imponente catedral.
Na manhã seguinte seguimos caminho, efetuando uma paragem em Pamplona, para conhecer a monumental Praça de Touros.
De seguida lá seguimos caminhos para Huesca, local onde íamos ficar instalados, para participar na prova. È uma pequena cidade, muito bonita, muito arranjada e bem cuidada, com casas muito peculiares.
Depois de instalados, fomos levantar os nossos dorsais para a "verdadeira", numa viagem de cerca de 10 km até ao centro de toda a operação e que seria local de início e fim da prova, sita na cidade de Sabinanigo.
Ali tudo era em grande, com muitas condicionantes e controles devido ao covid, lá conseguimos obter o tão desajo dorsal, bem como outros recuerdos.
O tempo estava magnífico, com uma temperatura que mais parecia verão, mas as más notícias começaram a aparecer, já que se ia falando que amanhã o dia ia estar muito mau, com muita chuva, mas sinceramente ninguem queria acreditar, tendo em conta a temperatura que se fazia sentir.
Depois das fotos da praxe, regressamos ao hotel, para fazer um breve treininho, depois de tantos quilómetros sentados a viajar.
As coisas iam ficando feias, com a organização a debitar novas determinações, sugestões e conselhos para o dia de amanhã, prevendo-se chuva muito forte e temperaturas baixas, instalando o caos e o medo. Bastava ler alguns cometários de atletas que conheciam bem os pirinéus e a perigosidade que era percorrer aquela zona em setembro e logo com alerta amarelo, devido à chuva e frio.
Não havia volta a dar, decidimos participar na mesma, tendo acordado às 06H00 manhã, para o pequeno-almoço.
Fizemos a viagem até à partida ainda de noite, sentindo a azáfama de carros e de gente.
Logo se seguida, começou a trovejar violentamente, seguindo de chuva muito forte, pois bem, já não havia nada a fazer, estava tudo estragado. Dava para perceber, que centenas de atletas, não saíam de dentro dos carros, pois não tinham vontade de sair.
Acabamos de ganhar coragem, já perto das 07H45. Tiramos as bikes do carro, acabamos por nos equipar e lá fomos para a nossa box.
Não sabíamos os números de participantes, mas dava para perceber que centenas de atletas não tinham tirado as bikes e outras centenas nem sequer tinham se deslocado para a prova. Sinceramente decidimos participar porque já tinhamos gasto imenso dinheiro, e, chegar ali e ir embora, era uma frustação enorme.
Depois de ter sido dado o tiro de partida, lá fomos. O 1º objetivo era acabar e então depois tentar o tempo de ouro.
A chuva torrencial foi o prato forte por longas horas do decorrer da prova.
Tinha pensado começar com calma e aos poucos ir apertando conforme fossem as sensações. Mas, ainda não apreendi e comecei forte de mais. Na 1ª descida, o frio era tanto, que desci sempre a tremer e com muita dificuldade em ver a estrada, tal era a chuva.
Mas com a continuidade, o frio foi diminuindo e com os quilómetros a dificuldade em manter o ritmo, era enorme, obrigando a diminuir.
A meio da 2ª subida, o Gouveia, que estava muito forte fisicamente, decidiu e bem, fazer a sua prova.
Nesta altura, ainda antes dos 100 kms, devido à chuva imensa o gps, começou a ganhar vida, mudando constantemente os gráficos, acabando mesmo por bloquear.
Já não tava fácil e mais complicado ficou, por ter ficado sem referência aos kms, altimetrias e percentagens das subidas. Ainda tentei perguntar a um espanhol quntos kms faltava, mas era para esquecer, não entendia nada o que eles diziam.
A prova foi feita quase sempre a sofrer, com longas subidas e em que as descidas não davam para recuperar, pois chovia imenso e tinhamos constantemente de diminuir a velocidade, com medo das quedas, pensando por diversas vezes em desistir, tal era o desgaste físico e mental que me encontrava. Só na parte final, deu para rolar forte e aliviar as dores, integrando num grupo bastante forte, que me ultrapassou.
Mas finalmente. lá cheguei à meta, concuindo os 200 km em 08H10.22. O mais engraçado é que para o meu escalão, depois de tudo que passei, acabei por não ter medalha de ouro por 22 segundos, é verdade, meu deus.
Em termos estatísticos, dos 6000 participantes que estavam inscritos, apenas 1900 partiram e destes, apenas 1445 chegaram ao fim....que brutalidade....No meu escalão terminaram 650, tendo conseguido ficar em 200. Na geral coletiva, fiquei em 621. Aqui dá para ter a noção de tudo que se passou.
Bem, estava na hora de regressar a Huesca, relaxar um pouco e voltar a casa.
Ficou a sensação de objetivo cumprido, ficando com pena por não ter usufruido de toda esta organização excelente, das paisagens dos Pirinéus e me ter divertido mais.
Obrigado ao meu companheiro de viagem, por mais esta aventura e pela classificação que conseguiu obter.
O futuro de nós dirá.....